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  • Foto do escritorMariana Bertalot

Dia a dia a Bordo, como é?

Como é o dia a dia a bordo? Como vocês fazem mercado? Como se lava a roupa suja?

Essa e outras perguntas chegam todos os dias em nossas caixas de mensagens e nas conversas entre amigos que não conhecem a vida a bordo. Que tal então saber um pouco mais como funciona a vida no nosso veleiro Trouble Maker.


Caos dentro do barco com a mudança

Para falar a verdade, o dia a dia dentro de um barco não é muito diferente das atividades diárias da vida em terra. Nós temos que cuidar do veleiro: limpeza, manutenção, organizar espaços para as atividades individuais de cada um, assim mesmo com você faz na sua casa!

Organização e Manutenção

Por ser um espaço limitado toda a organização é pouca e não tem como ficar sem arrumar a cama ou guardar os brinquedos antes de passar para a próxima tarefa do dia. A quantia limitada de louça nos obriga a encarar a pia a cada refeição e ainda por cima economizando água, o banheiro precisa ser seco todos após cada banho e limpo constantemente, principalmente para quem não tem box no chuveiro - nosso caso. Confesso que aqui sim: é mais chato do que cuidar de casa pois aqui não dá pra esconder a bagunça, abrir uma porta de armário e enfiar tudo dentro. A menor coisinha fora do lugar “aparece” e atrapalha todo resto.

Trouble Maker parado para manutenção

Seguido da arrumação, outra tarefa no barco é manutenção. Embora a grande maioria dos velejadores, a qual nos incluímos, se recusem fazer grandes manutenções nas temporadas de verão estamos constantemente verificando as condições do barco, fazendo pequenos reparos e alimentando a lista de inverno. No inverno como não é possível velejar com tanta frequência no Mediterrâneo e "reza a lenda" que as grandes manutenções são feitas nessa época, só que no fim da temporada a tal “lista de inverno” é tão grande que precisaria de no mínimo uns 3 invernos para ser concluída!

Mercado e Lavanderia

As coisas que precisamos fazer fora do barco como lavar roupa e fazer mercado são um pouquinho complicadas, mas factíveis. Passamos no mercado todas as vezes que vamos para cidade. Compramos um carrinho de feira (super dica, comprem um) e seguimos assim: todos no botinho inflável, inclusive a nossa cachorrinha Snow, nossas sacolas, mochilas e o tal carrinho de feira. Ao chegarmos caminhamos até algum mercado e compramos nossas coisas tirando o máximo possível de embalagens, colocamos as compras mais pesadas no carrinho e dividimos o restante nas sacolas entre nós 4, as crianças participam ativamente dessa tarefa desde a execução da lista até carregar as sacolas. Volta para o bote com tudo cheio e coloca dentro do barco. Aproveitamos para fazer compra de coisas mais pesadas como bebidas quando estamos com o barco ancorado mais perto do mercado ou em uma cidade que o trajeto a pé até o mercado não seja muito longo. Outra coisa que aliviou nossa compra foi a aquisição de uma dessas jarras que filtram a água, ficar sem suco ou vinho é tolerável, mas sem água não dá e nisso economizamos muitas idas ao mercado, espaço no carrinho, dinheiro e lixo!


Finalmente pronto para sair

Já a roupa é um drama mesmo. Não tem resposta fácil aqui, se colocar uma maquina de lavar (sonho de consumo!!) precisa achar o espaço, adequar a entrada de água e prover energia, ou seja investimentos altos (watermaker e gerador) e quando não tem máquina é preciso ficar buscando uma lavanderia em cada ilha que se passa, o que não é uma tarefa fácil. Na última temporada fizemos assim: no alto verão como a maioria das roupas são leves como biquínis e shorts de banho, lavamos na mão mesmo. Lençóis e toalhas só quando parávamos em alguma cidade com lavanderia por perto. Já no final da temporada com a chegada do outono acabamos acumulando as roupas até encontrar uma lavanderia pois chove muito e usamos mais roupas pesadas de frio.

Água, Gás, Eletricidade e Lixo

Conseguir água para o barco é uma tarefa especial. No Beneteau tínhamos 550L nos nossos tanques e agora no Bavaria teremos que nos virar com 360L, ambos divididos em 2 tanques. Então, controlamos ao máximo o consumo de água! Banhos são rápidos, fechando o chuveiro enquanto se passa o sabonete ou o shampoo. Aproveitamos a primeira água ainda fria para lavar as roupas íntimas do dia e depois, nada fica sem ser reutilizado: se lavamos outras roupas reaproveitamos a água várias vezes e por fim ainda usamos para lavar o barco por fora. As louças são as grandes vilãs e são lavadas com o mínimo de água necessária, eu tiro os restos de comida dos pratos, depois ensaboo tudo e coloco dentro da pia para otimizar o enxágue.

Para abastecer podemos tanto parar nas marinas ou pontões da cidade com um certo custo, mas quando podemos fazemos a caça a uma torneira pública e enchemos galões de água todos os dias – nesse caso a tarefa já inclui o cross-fit do dia: encher os 10 galões de 6L que temos aqui, colocar tudo no botinho, passar para o barco depois e ainda encher os tanques. Isso que, se o consumo foi muito alto, temos que usar galões de 20L e então a tarefa fica mais pesada. Dureza!

A eletricidade no barco pode ser gerada de várias maneiras, pelo motor - como no carro, gerador a diesel, painel solar e gerador eólico. Normalmente combinamos mais de uma forma de geração: o Trouble Maker possui o básico que é o motor do barco e sistema de energia solar. Ao longo do caminho percebemos que o tamanho das baterias interferem diretamente na autonomia de energia e que por mais sofisticado que seja o sistema elétrico a energia também deve ser consumida com cautela. E sim, temos água quente para o banho, gerada pelo motor e se precisamos pelas baterias através de um inversor.

Cozinhar no barco é como cozinhar de camping com um fogão de 2 bocas e forno (nos barcos maiores é possível ter um fogão maior). Por motivos de segurança, procuramos usar o fogão apenas quando estamos parados. Quando a travessia é muito longa preparamos a comida antes para evitar acidentes com as panelas quentes e o movimento do barco. Outro detalhe importante é que cada país tem o seu botijão. Usamos os pequenos que são os mesmos de camping e temos 2 deles que são reutilizáveis, só que descobrimos que dependendo de onde está, tem que comprar o botijão local! Não esperávamos por mais essa! E aquela máxima de que o gás acaba no meio do assado também vale para o barco.

E o lixo? O lixo é um caos e a consciência ecológica é um sofrimento. Na vida a bordo temos a noção real da quantidade de lixo que produzimos, ao mesmo tempo que tomamos a consciência de que não há escolha simples para esse tema na vida atual. Por hora, minimizamos as embalagens na hora da compra, damos preferências para produtos frescos locais. Por outro lado, quando vamos fazer travessias preferimos os enlatados, por não quebrarem e por serem de fácil preparo. Além disso dependemos dos recursos disponíveis nos lugares que paramos, e não é em todo lugar que a separação de lixo e como nosso espaço é limitado não é sempre que podemos esperar encontrar um lugar mais adequado para descarregar tudo que trazemos conosco! Temos uma máxima que se não veio da natureza, não pode voltar para a natureza. As vezes andamos dias atrás de um lugar para deixar o nosso lixo corretamente. Enfim, ainda estamos trabalhando para melhorar o manejo do nosso lixo. Aceitamos sugestões!!

Para mim a grande diferença entre as tarefas no barco e da casa é que além do barco não ser possível deixar para depois, as tarefas mais comuns e simples tem sua importância e relevância. Tudo será colocado na lista de tarefas do dia e viraram horas de conversa durante os encontros com amigos velejadores. No barco nada passa despercebido.

Nos vemos pelo Med!

Um abraço,

Mari

Familia Trouble Maker

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