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  • Foto do escritorMariana Bertalot

Primeira Vez a Bordo?

Por Mariana

3 coisas que você precisa saber antes de entrar em um veleiro!

É muito interessante como as pessoas me olham quando digo que moro num veleiro. Logo vem duas imagens: um navio de cruzeiro e eu sendo servida por uma imensa tripulação ou um barquinho de desenho infantil: nós lá pescando peixes com lanças e cozinhando na fogueira. Sinto desapontá-los, mas nenhuma dessas imagens correspondem a minha realidade, existe uma infinidade de coisas no meio disso e é aí que me encontro!

Para você que nunca entrou em um veleiro comum, com cabines e camas de casal, banheiros e um salão composto por sala, cozinha e mesa de navegação; compartilho alguns pontos que tornarão seu passeio ou sua vivência a bordo de um dia ou semana seguros e memoráveis.

1. O Veleiro

Para começar é preciso ter em mente que um veleiro não é uma embarcação "estável". Seus movimentos e

Nosso Bavaria 44 Cruiser

sua agilidade são o resultado do encontro entre as habilidades do velejador, a performance do barco e as forças da natureza (ventos, condições do mar, tempestades). Com todas essas variáveis o mais seguro é não deixar coisas soltas pelo salão e cabines. Sendo assim, organizar as coisas em seus lugares, fechar portas, gavetas e amarrar as coisas grandes são os procedimentos necessários antes de todas as velejadas, seja ali do lado ou uma travessia.

A condição que eu mais gosto de velejar é com vento de lado (chamamos de bochecha ou través), pois é quando o veleiro corta as ondas como uma faca. Ele aderna (fica de lado) mas se mantém firme, ganha velocidade e as velas respondem rápido! Essa sensação é o que caracteriza uma boa velejada na minha opinião. Nesse tipo de velejada é mais confortável sentar do lado que fica mais alto e conseguir apoiar o pé para ter a sensação de estabilidade - e não levar uns bons borrifos de água salgada!

Há também as condições menos agradáveis, como quando o vento e o mar estão desencontrados. O barco fica mole, a mercê das ondas, é difícil de ajustar as velas e ele anda menos. Nesses dias o pensamento é de chegar logo ou de encontrar um lugar seguro no meio do caminho para parar. A melhor coisa a se fazer quando a velejada está assim, é ficar no deck e ter em mãos um antiemético para caso de enjoo, aqui no Trouble Maker muitas vezes já tomamos antes mesmo de sair.

O lado bom é que independente do balanço, o barco não vira, os veleiros grandes tem quilha isso os deixa sempre "de pé". Procure um lugar confortável e aproveite sua velejada!

2. Segurança

Segurança é um dos pontos mais importantes para que seu passeio seja memorável. Já pensou se machucar no meio de uma ilha paradisíaca sem acesso médico? Por isso, é preciso minimizar as possibilidades de um acidente.

Uma das premissas de segurança para aproveitar sua velejada é “Sempre tenha uma mão para você e uma mão para o barco ”, isso quer dizer que no barco não se anda com as duas mãos ocupadas, como disse, o veleiro está à mercê do mar e pode balançar o barco de um jeito diferente, seja por uma onda que chega de outro lado (no mar é possível ter ondas de várias direções) ou pelo balanço provocado pela passagem de barcos maiores. Portanto não se esqueça, ao se locomover dentro de um veleiro sempre tenha uma mão para o barco, segurando em algum lugar para não cair!

Com o passar do tempo a percepção de nosso corpo muda e encontramos outros pontos de equilíbrios e a habilidade de fazer muitas coisas com uma mão só, inclusive cozinhar, vão aumentando, mas precisa-se de tempo para chegar nesse ponto.

Outra coisa muito importante é confiar nos conhecimentos do capitão, no mar minutos podem evitar grandes complicações. O capitão, também chamado de skipper, é a pessoa responsável pela travessia, ajusta as velas, mante o rumo, verifica a meteorologia e gerencia a tripulação. No veleiro todas as pessoas a bordo, independente de seu conhecimento náutico, são consideradas tripulação. Por aqui, temos como combinado fazer primeiro e perguntar depois.

Logo após a tempestade

Lembro-me da primeira vez que pegamos uma tempestade no Mediterrâneo, um dia lindo de verão sem previsão de chuva. Estávamos almoçando em uma ancoragem e minha mãe avistou algumas nuvens escuras se aproximando. Imediatamente, o Tiago disse que iriamos sair dali e ficaríamos apenas nós dois no cockpit. Imediatamente desmontamos o almoço, as crianças e meus pais foram para dentro do veleiro e fechamos todas as janelas. Eu peguei nossas roupas de tempo enquanto o Tiago levava o barco para longe da praia e de qualquer obstáculo. Foi tão sincronizado que no momento que eu fechei a porta do barco a chuva, o vento e o mar chegaram com tudo. As lições que aprendemos nesse dia foram: todas as percepções contam e ter claro as funções de cada um evita questionamentos desnecessários, assim ganhamos um tempo precioso para tomar ações.

Vale lembrar que todas as ferragens do barco exercem muita força e todo cuidado é pouco. Se familiarize com cada ferramenta, entenda como segurar os cabos, tampas da geladeira e dos lockers de forma segura, fique atento a circulação de todos e na dúvida pergunte para o capitão como e o que fazer.

Ah, salva vidas sempre!!

3. Curiosidades

Na vida os planos servem para serem mudados, mas no mar isso acontece com muita frequência. Sua saída para a próxima ancoragem vai depender do clima e das provisões que você dispõe, como água e comida por exemplo. O clima precisa ser checado mais de uma vez por dia, para saber se o caminho à percorrer está favorável, se o local onde se fará ancoragem é seguro e caso a decisão seja a de não sair e ficar onde já estão novamente verificar se ali também estará seguro para a próxima mudança meteorológica.


Aproveitando subir um rio com o veleiro

Outra coisa que fica mais evidente no mar é que você não precisa chegar à lugar nenhum. O caminho é o destino! E isso pode se concretizar de várias formas: uma velejada por perto e voltar para o mesmo lugar que já estava; pode ser uma travessia de 6 horas que virou 10, porque o lugar que se pensou não é tão bom quanto se imaginava e você continuou em frente; e pode ser uma velejada de 4 horas que virou 1 já que um lugar paradisíaco e seguro apareceu bem ali pertinho.

Aqui o calendário funciona diferente, os dias são marcados por velejadas e paradas. Não existe dias úteis e finais de semana, há o que é necessário fazer para velejar e o que se faz apenas quando estamos parados. Re-aprendemos a respeitar os sinais de cansaço e disposição de nosso corpo, nos conectamos ao ritmo da natureza sem a pressa de chegar. Aprendemos a contemplar os detalhes ao nosso redor e a respeitar nossas percepções.



Se você quer conhecer de perto essa sensação entre em contato conosco!

Um grande abraço,

Mari


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1 commentaire


Rodrigo Saurim
Rodrigo Saurim
04 mars 2022

Lendo parece que já estamos deslisando sobre o mar... texto incrível, contando os minutos para nos encontrarmos e balançarmos ao lado de vocês com o Rainbow’s End.

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